Vivemos um tempo de muitas mudanças e novidades – e o que era comum e aceitável acabou gerando fatos muitas vezes grotescos e inusitados. Com as mudanças, apareceram pessoas com as mais diferentes funções procurando sempre faturar, principalmente em cima da bondade alheia. Surgiram os intermediários, os procuradores, os empresários, os golpistas, os assessores... Estamos sendo assediados e às vezes é difícil escapar deste exército de funcionários que estão sempre à nossa inteira disposição. E haja tempo, paciência e dinheiro para atender a tanta gente!


O cidadão comum até se assusta com a gama de serviços que lhe são oferecidos diariamente via telefone, internet ou pessoalmente. Tudo isto, evidentemente, tem um custo que varia, mas sempre tem! É só desembarcar em alguma rodoviária e logo aparecem pessoas desconhecidas se oferecendo. É o taxista, é alguém que se oferece para ajudar a carregar as malas, é o engraxate todo solícito: “vai uma graxa aí doutor?”. É o vendedor de bugigangas, é o funcionário do hotel que fica próximo à rodoviária, é a prostituta... E no meio deste burburinho surgem os mendigos implorando “uma esmolinha pelo amor de Deus”. Para fugir deste assédio é preciso ter um bom preparo físico senão corremos o risco de sermos sufocados. E às vezes quando pensamos que estamos salvos aparece outro grupo para nos atacar ainda com mais força...

Essa é uma corrida da qual todos, de alguma forma, acabam participando. É a corrida pela vida, pela sobrevivência cada vez mais difícil e mais sofrida. Nunca o ser humano sofreu tanto em busca de seu sustento e do sustento de sua família. O comércio informal é hoje uma prática comum em todas as cidades, e já fugiu ao controle das autoridades criando uma atividade paralela, para muitos, indispensável. É só olhar as feiras livres com seus produtos de qualidade duvidosa onde a pirataria corre solta e abastece a clientela sempre ávida por novidades. Em algumas cidades existe o camelódromo onde se pode encontrar os mais diferentes produtos na quantidade que quiser. Tem também o comércio às margens das rodovias procurando atrair os motoristas que na maioria das vezes passam indiferentes. Todos querem de alguma forma ganhar algum dinheiro usando os mais diferentes meios para tal.

Vivemos um tempo de mudanças e muitas alterações na economia. A criança, ainda em idade escolar, já sai às ruas vendendo alguma coisa. E, muitas vezes, acaba sendo vítima de abusos nas mãos de pedófilos – o que é extremamente lamentável. O cidadão que passa apressado é abordado; ele não tem tempo para atender os vendedores que não se cansam de insistir. De repente, alguém bate à porta ou toca a campainha e muitas vezes não podemos atender. É mais um vendedor ou mesmo um religioso que pede a nossa atenção. Não temos sossego nem em casa! É a roda da vida que gira todos os dias enquanto o sol aquece a terra, ou a chuva cai e lava as cidades e as almas. Muitas pessoas oferecem os seus serviços; algumas chegam a nos convencer por sua simpatia e sua técnica. O que fazer com tanto apelo e tanta necessidade? Talvez seja melhor fechar os olhos e tentar esquecer. As pessoas às vezes nos surpreendem, nos sensibilizam e nos deixam sem saber o que fazer. Mas, enfim, sabemos que tudo isto faz parte da vida.



Cícero Alvernaz, 55, (Membro da Academia Guaçuana de Letras)

Mogi Guaçu, 25 de fevereiro de 2010.

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